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  • Foto do escritorAndré Soltau

Entre o tempo e o espaço

Atualizado: 23 de mar. de 2020

André Soltau . Outono 2020






Andando pela cidade logo percebemos que o passado envolve nossos sentidos. A cidade não fala, mas suas ruas, o ângulo das casas, os tipos de portas e janelas ou o acabamento de uma escada. Os bustos em praça ou memoriais para heróicos tempos. A cidade não fala. Onde podemos redescobrir esse passado que faz dessa cidade o que ela é hoje?


Na História tudo acontece em um determinado tempo e em um determinado espaço. O projeto Palavra d’água se fez um desafio: como os moradores de Itajaí (com)vivem com a água? Qual o significado para essa cidade, que é encontro de águas, reviver suas experiências com a água?


Se a conversa sobre o passado mexe com nossos sentimentos, isso é assunto que precisa ser registrado. Enchentes, perdas e também alegrias e reuniões em torno da água. A cidade transborda de tempos pretéritos e também respira ares de futuro.


As relações humanas são um eterno devir. Nossas representações, práticas sociais se inter-relacionam em um território que faz de nós o que somos. Somos absorvidos pela cidade e vamos, pouco a pouco, absorvendo os modos de falar, morar, amar, viver, comer do lugar.

Sem falarmos, claro, do ato de produzir nesse espaço chamado cidade. A pessoa que pesca ou move o barco, aquela que surfa ou usufrui da praia, outra que congela água para vender ou que tem uma bica de água que vem do morro. As pessoas estão no espaço e produzem esse mesmo espaço.


E a memória? Efêmera, pode ficar no longo caminho do esquecimento. O registro feito por vozes desses que fazem a cidade e se fazem dela é fundamental para entendermos a relação afetiva das pessoas com esse lugar.


Ouso ainda dizer que a cidade, para além de suas ruas e casa, vielas ou monumentos, é feita dos seus habitantes com seus comportamentos, suas escolhas culturais, seus hábitos. Mesmo que eu – como pesquisador – saiba que é sempre relativo descrever essas memórias pela essência subjetiva que carregam, mas arrisco.


A velocidade com que as práticas sociais mudam ou a imutabilidade de algumas tradições convivem com o grande fluxo de informações que tem em uma cidade quer sejam notícias diárias ou valores simbólicos trocados. Há uma pluralidade de jeitos e falas que fazem o estudo da memória de uma cidade um complexo labirinto. Isso exige cuidados e, sobretudo, conversa com diversas áreas do conhecimento.


As cidades são espaços de memória e não se resumem em um conjunto de lembranças sobre fatos passados. Mas a memória é um processo que exige pensarmos sobre o que foi guardado. Por que foi guardado? E o que foi silenciado?


Essa problemática é que constrói as representações do que é a cidade em estudo. O projeto Palavra d’água ouve moradores sobre aspectos materiais e simbólicos considerando as relações de força que atuaram para a cidade guardar essa e não outra memória.


As perguntas que ficam: Há uma cidade, duas ou muitas?


Ouvimos muitos para deixar rastros de uma cidade que se desdobra em várias.

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