André Soltau . Outono 2020
A conversa com essa senhora é sempre acompanhada de risos, histórias divertidas e muito carinho com aqueles que ela recebe em sua casa.
Fala com calma e firmeza sobre os seus. A família de Dona Conceição tem uma força incrível que vem da união e da alegria. O vínculo que prende essa senhora à sua família é visivelmente forte. Seu pai e mãe estão em todas as histórias e possuem uma força que se faz presente ainda hoje. Disse ela sobre sua mãe Iracema:
“A minha mãe, dona Iracema, mulher bonita e de luta, detestava o mar. Não ia na praia como o resto da família. Costumava lamber os filhos para saber se haviam tomado banho de mar sem ela saber. ”
Ouvi essa conversa acompanhada de muito riso. Dona Conceição sabe animar o ambiente com suas histórias que acolhem e nos dão a sensação de que precisamos aprender muito ainda. A memória narrada sempre tem algo a ensinar.
Coloquei o texto em uma narrativa literária:
“ Dona Iracema, uma mulher bonita que tinha suas batalhas diárias sempre enfrentadas com coragem. Não gostava de ir à praia com a família, ficava em casa preparando a roupa e a comida, já sabendo que voltariam de barriga roncando depois de tanta algazarra na beira do mar. Mas os filhos só podiam ir tomar banho de mar com seu consentimento. A menina Conceição, nem ousava pensar em mentir para Dona Iracema. Sua mãe tinha lá seus métodos um tanto estranhos para pegar os filhos em mentiras. E funcionavam... ah e como funcionavam! Costumava lamber os filhos quando chegavam da rua para saber se haviam tomado banho de mar sem ela saber. Não errava uma! A mentira era pega pela língua.”
No projeto PALAVRA D’ÁGUA afirmamos que a escrita não é imposição sobre um modo de ver o mundo. A escrita narra o inacabado e pereniza o instante. A escrita precisa pulsar sobre a sociedade da qual ela nasce com suas memórias e sofrimentos, suas alegrias e aspirações.
Dona Conceição é parte desse projeto com suas histórias alegres e energia linda que compartilhou comigo. Sempre grato!
